quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Ferreira Gullar

Uma parte de mim é todo mundo
outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão
outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa,
ponder aoutra parte delira.
Uma parte de mim almoça e
jantaoutra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente
outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem
outra parte, linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte- que
é uma questão de vida ou morte -será arte?

sábado, 22 de dezembro de 2007

Gosto dos venenos mais lentos,Das festas mais poderosas,Das bebidas mais amargas,Das vitórias mais difíceis,Das paixões inesperadas,Das idéias mais loucas,dos pensamentos mais complexos e dos sentimentos mais fortes.Tenho um apetite voraz, os delírios mais doidos,E um coração bobo...Vc pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:E DAÍ ?? Eu adoro voar !!!!

Mui Bom!

Manual de Como Falar Bem

Prosopopéia flácida para acalentar bovinos(Conversa mole pra boi dormir)
Colóquio sonolento para gado bovino repousar(história pra boi dormir)
Romper a face(Quebrar a cara)
Creditar o primata(Pagar o mico)
Inflar o volume da bolsa escrotal(Encher o saco)
Impulsionar a extremidade do membro inferior contra a região glútea de alguém(Dar um pé na bunda)
Derrubar, com a extremidade do membro inferior, o suporte sustentáculo de uma das unidades de acampamento(Chutar o pau da barraca)
Deglutir o batráquio(Engolir o sapo)
Colocar o prolongamento caudal em meio aos membros inferiores(Meter o rabo entre as pernas)
Derrubar com intenções mortais(Cair matando)
Aplicar a contravenção do Sr. João, deficiente físico de um dos membros superiores(Dar uma de João sem braço)Sequer considerar a utilização de um longo pedaço de madeira(Nem a pau)
Sequer considerar a possibilidade da fêmea bovina expirar fortes contrações laringo-bucais(Nem que a vaca tussa)Sequer considerar a utilização de instrumentos metálicos derivados do ferro(Nem ferrando)
Derramar água pelo chão através do tombamento violento e premeditado de seu recipiente(Chutar o balde)
Retirar o filhote de eqüino da perturbação pluviométrica(Tirar o cavalinho da chuva)

http://filosofiasdebotequimdopadilha.blogspot.com

domingo, 9 de dezembro de 2007

Pense como um mané e conquiste seu mané


Americana maluca lança livro em que diz, entre outras coisas, que na primeira transa as mulheres só devem fazer papai-e-mamãe. E também aconselha que as mulheres enganem os homens. Faça respiração de ioga para ler este texto
Nunca um livro causou tanta indigna­ção na equipe da Tpm como o Pense como um Homem e Conquiste o Seu, de Giuliana DePandi. Prontas para as pérolas? “Não se mostre muito interessada em crianças, bebês e cachorrinhos. (...) Não fique toda melosa – ele vai achar que você está louca para ter um filho.” E, na dica 24, assusta de novo: “Na primeira transa, não faça nada ousado demais. Você vai ficar parecendo uma vadia. Fique no papai-e-mamãe o má­xi­mo possível... Sempre que ele tentar alguma coisa ousada, diga a ele que está com vergonha, assustada ou que aquilo parece ‘indecente’". Sim, finja que você é frígida, não goze, não aproveite. Homem não gos­ta de mulher que gosta de sexo e o que im­porta é agradá-los para conseguir casar, nos ensina a autora deturpadora! “Nunca, de jeito nenhum, beije no primeiro encontro” (bem, então não é primeiro encontro). A pior de todas: “Não termine o namoro, a menos que tenha outro em vista”. Ela diz que a gente deve, enquanto está namorando, ter um substituto em mente. Claro, es­se homem estepe deve ser mais gostoso (ou mais rico) que o anterior.
Vamos quei­mar este livro com toda a nossa ira.Não vai lá (e avisa todo mundo para não ir): Pense como um Homem e Conquiste o Seu, Giu­lia­na DePandi, editora Planeta.

Por que nos apaixonamos?

Por que reconhecemos alguém que nos desperta a vontade de autenticar o passado ou de zerar nossos passos na estrada? Adoro estar apaixonada, beijar na boca e ficar toda taquicárdica. Exercitar a inocência e o desejo que temos no organismo é natural, mas saímos por aí fingindo saber de tudo que temos que fazer.E por enquanto ficamos assim... Acordamos de manhã para ir viver o mundo. Nessa hora, o mundo é tudo o que não é o sono... Somos insuspeitos dormindo e podemos abusar do amor. Ser natural é marcante na vida. Quando exigimos esse perfil de nós mesmos, a inversão de valores ocorre e perdemos a naturalidade.Muitas vezes nos desapaixonamos e produzimos em conjunto um desconforto castigante. Quando vem a reação pelo cansaço, vamos matando o mal-estar até o estado de impercepção crônica. Pronto, conseguimos desprezar aquilo que era importante ou percebemos que era irrelevante! O excesso banaliza, tipo barulho de avenida com carros passando ininterruptamente. Chega uma hora em que o barulho vira um silencioso ruído.Agora deixamos o longo “por enquanto” tornar-se um “viver apesar de”. Mesmo sabendo que temos substâncias suficientes para nos apaixonar, ainda perpetuamos o receio de sermos visitados por alguém que nos retire da constância cotidiana. Usamos disfarces para nos distrair e não precisar nos envolver no nosso próprio roteiro. Como assistir à novela na casa dos outros, parece que não assistimos a ela.Para alguns, poucas coisas na vida são melhores que a sensação de comer um chocolate no momento da fissura por aquele gostinho. Outros, nem mesmo fazendo amor na Ilha de Santorini, se entregam à paixão. Neste texto, vale qualquer coisa que induza o entusiasmo a se sobrepor à razão. Tem que ser natural. E, para se apaixonar... é preciso se dar alta. E quando o amor se desintegra? Um dia é tudo que se sente e num outro dia foi desfeito. Quem faz isso? É o tempo. Ele manda e desmanda feitiços. Cartas velhas e acumuladas se esvaem de importância. Assim como os excessos, as faltas também perdem valor.O tempo e o ventoNa madrugada, quando meu sono é interrompido, meus pensamentos ficam severos e meu mundo mental dicotomiza, oscilando entre certo e errado. Quando chega a manhã, sou agraciada por um misto de gentileza e vontade intensa, alterando a severidade para uma concepção de dia em que existem certos, errados e muitas outras coisas... Nesse momento fica claro que somos a principal razão da nossa paixão. Nos apaixonamos quando estamos precisando nos reinventar.

Mais uma festinha




Galerinha reunida para comemorar os 23 anos da Cassiane em sua mais bela nova casa no dia:08/12/2007.

Persio,Eu,Milla,Fausto(que tirou a foto),Thais,Samara,Ariel,Sabrina,Rosemberg,Cassiane,Bercle.
Cassi FELICIDADES!

O não texto

Você não está lendo um texto. Você está dormindo numa rede, atravessando um farol, comprando um porta-clipes, fazendo arroz integral, prendendo os cabelos, assistindo doctor House, vendo sua cachorra espreguiçar. Sei lá, qualquer coisa. Mas você não está lendo esse texto. Eu também não estou escrevendo pela trigésima vez sobre gostar de alguém. E tentando entender todos os 567 contras e 876 a favor. E tentando metaforizar um cheiro, um olhar, uma frase. E tentando descrever minha dor só para dar a ela algum patamar mais interessante do que a simplicidade de uma simples dor. E tentando supervalorizar minha alegria, só para dar a ela um gosto de vitória como se jamais fosse cotidiano ser feliz. Eu não estou de frente para uma folha em branco. Tentando tornar meus personagens mais interessante e meus sentimentos mais nobres. Eu estou de frente para eles, vendo que meu personagem pode ser sem graça e meu sentimento pode estar morrendo. Este é um não texto porque cansei da minha covardia em me contar um mundo que eu invento para viver melhor. Cansei de me contar um personagem só para que suspirar não seja um simples movimento involuntário. Cansei de me contar uma história linda, só para que os dias não corram sem magia e sem a certeza de um grande final de filme. Imagina só que vida chata se eu, ao invés de escrever um texto de amor, cheio de esperança, profundidade, dor, maluquice, tesão, estivesse escrevendo um texto assim: e ninguém é interessante e eu, pra ser sincera, não gosto de ninguém. Triste, muito triste. Chato. E pior do que tudo isso: anti-literário. Como é que um escritor vai se sustentar com um coração vazio? Mas chega. Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. Não decidi isso movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama. Não posso mais emprestar mistério ao vazio, vida ao oco, esperança ao defunto, saliva ao seco. Não posso mais emprestar meus desejos para que pessoas se tornem desejáveis. E, finalmente, não posso mais inventar amor só para poder falar dele. Recebo e-mails de muita gente que me fala “que coragem escrever assim sobre o amor”, “que coragem ir tão fundo na sua dor”, “que coragem sentir tantas coisas a flor da pele”. Mas pelo menos hoje quero me desafiar a fazer algo muito mais difícil. Quero não sentir nada. Quero descansar meu coração de saco cheio das minhas invenções e precisando se preparar para viver algo de verdade. Como será que é acordar e não esperar nada com o toque do celular, da campainha, do messenger, do e-mail, do ar, do chão? Como será que é sentir e gostar da vida pela sua calmaria e banalidade? Como será que é viver a banalidade sem achar que isso é banal? Este é um não texto. Pra falar de um não amor. Pra falar de um não homem. Pra falar de uma não fantasia, invenção, personagem. Esse é um texto a favor da vida, pra falar da vida. A vida com seus defeitos, cinzas, brancos, estagnações, paradas, frios, silêncios, amenidades. A vida que pode não acelerar o peito e deixar tudo com estrelinhas de purpurina. Mas que é incrível por ser real. A vida que não se escreve mas se vive, mesmo que isso, muitas vezes, seja ainda mais difícil que qualquer regra gramatical ou construção literária.
Você não está lendo um texto. Você está dormindo numa rede, atravessando um farol, comprando um porta-clipes, fazendo arroz integral, prendendo os cabelos, assistindo doctor House, vendo sua cachorra espreguiçar. Sei lá, qualquer coisa. Mas você não está lendo esse texto. Eu também não estou escrevendo pela trigésima vez sobre gostar de alguém. E tentando entender todos os 567 contras e 876 a favor. E tentando metaforizar um cheiro, um olhar, uma frase. E tentando descrever minha dor só para dar a ela algum patamar mais interessante do que a simplicidade de uma simples dor. E tentando supervalorizar minha alegria, só para dar a ela um gosto de vitória como se jamais fosse cotidiano ser feliz. Eu não estou de frente para uma folha em branco. Tentando tornar meus personagens mais interessante e meus sentimentos mais nobres. Eu estou de frente para eles, vendo que meu personagem pode ser sem graça e meu sentimento pode estar morrendo. Este é um não texto porque cansei da minha covardia em me contar um mundo que eu invento para viver melhor. Cansei de me contar um personagem só para que suspirar não seja um simples movimento involuntário. Cansei de me contar uma história linda, só para que os dias não corram sem magia e sem a certeza de um grande final de filme. Imagina só que vida chata se eu, ao invés de escrever um texto de amor, cheio de esperança, profundidade, dor, maluquice, tesão, estivesse escrevendo um texto assim: e ninguém é interessante e eu, pra ser sincera, não gosto de ninguém. Triste, muito triste. Chato. E pior do que tudo isso: anti-literário. Como é que um escritor vai se sustentar com um coração vazio? Mas chega. Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. Não decidi isso movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama. Não posso mais emprestar mistério ao vazio, vida ao oco, esperança ao defunto, saliva ao seco. Não posso mais emprestar meus desejos para que pessoas se tornem desejáveis. E, finalmente, não posso mais inventar amor só para poder falar dele. Recebo e-mails de muita gente que me fala “que coragem escrever assim sobre o amor”, “que coragem ir tão fundo na sua dor”, “que coragem sentir tantas coisas a flor da pele”. Mas pelo menos hoje quero me desafiar a fazer algo muito mais difícil. Quero não sentir nada. Quero descansar meu coração de saco cheio das minhas invenções e precisando se preparar para viver algo de verdade. Como será que é acordar e não esperar nada com o toque do celular, da campainha, do messenger, do e-mail, do ar, do chão? Como será que é sentir e gostar da vida pela sua calmaria e banalidade? Como será que é viver a banalidade sem achar que isso é banal? Este é um não texto. Pra falar de um não amor. Pra falar de um não homem. Pra falar de uma não fantasia, invenção, personagem. Esse é um texto a favor da vida, pra falar da vida. A vida com seus defeitos, cinzas, brancos, estagnações, paradas, frios, silêncios, amenidades. A vida que pode não acelerar o peito e deixar tudo com estrelinhas de purpurina. Mas que é incrível por ser real. A vida que não se escreve mas se vive, mesmo que isso, muitas vezes, seja ainda mais difícil que qualquer regra gramatical ou construção literária.

Por Tati Bernardi
http://www.tatibernardi.com.br