quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
Uma parte de mim é todo mundo
outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão
outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa,
ponder aoutra parte delira.
Uma parte de mim almoça e
jantaoutra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente
outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem
outra parte, linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte- que
é uma questão de vida ou morte -será arte?
sábado, 22 de dezembro de 2007
Mui Bom!
Prosopopéia flácida para acalentar bovinos(Conversa mole pra boi dormir)
Colóquio sonolento para gado bovino repousar(história pra boi dormir)
Romper a face(Quebrar a cara)
Creditar o primata(Pagar o mico)
Inflar o volume da bolsa escrotal(Encher o saco)
Impulsionar a extremidade do membro inferior contra a região glútea de alguém(Dar um pé na bunda)
Derrubar, com a extremidade do membro inferior, o suporte sustentáculo de uma das unidades de acampamento(Chutar o pau da barraca)
Deglutir o batráquio(Engolir o sapo)
Colocar o prolongamento caudal em meio aos membros inferiores(Meter o rabo entre as pernas)
Derrubar com intenções mortais(Cair matando)
Aplicar a contravenção do Sr. João, deficiente físico de um dos membros superiores(Dar uma de João sem braço)Sequer considerar a utilização de um longo pedaço de madeira(Nem a pau)
Sequer considerar a possibilidade da fêmea bovina expirar fortes contrações laringo-bucais(Nem que a vaca tussa)Sequer considerar a utilização de instrumentos metálicos derivados do ferro(Nem ferrando)
Derramar água pelo chão através do tombamento violento e premeditado de seu recipiente(Chutar o balde)
Retirar o filhote de eqüino da perturbação pluviométrica(Tirar o cavalinho da chuva)
http://filosofiasdebotequimdopadilha.blogspot.com
domingo, 9 de dezembro de 2007
Pense como um mané e conquiste seu mané
Nunca um livro causou tanta indignação na equipe da Tpm como o Pense como um Homem e Conquiste o Seu, de Giuliana DePandi. Prontas para as pérolas? “Não se mostre muito interessada em crianças, bebês e cachorrinhos. (...) Não fique toda melosa – ele vai achar que você está louca para ter um filho.” E, na dica 24, assusta de novo: “Na primeira transa, não faça nada ousado demais. Você vai ficar parecendo uma vadia. Fique no papai-e-mamãe o máximo possível... Sempre que ele tentar alguma coisa ousada, diga a ele que está com vergonha, assustada ou que aquilo parece ‘indecente’". Sim, finja que você é frígida, não goze, não aproveite. Homem não gosta de mulher que gosta de sexo e o que importa é agradá-los para conseguir casar, nos ensina a autora deturpadora! “Nunca, de jeito nenhum, beije no primeiro encontro” (bem, então não é primeiro encontro). A pior de todas: “Não termine o namoro, a menos que tenha outro em vista”. Ela diz que a gente deve, enquanto está namorando, ter um substituto em mente. Claro, esse homem estepe deve ser mais gostoso (ou mais rico) que o anterior.
Por que nos apaixonamos?
Mais uma festinha
O não texto
Você não está lendo um texto. Você está dormindo numa rede, atravessando um farol, comprando um porta-clipes, fazendo arroz integral, prendendo os cabelos, assistindo doctor House, vendo sua cachorra espreguiçar. Sei lá, qualquer coisa. Mas você não está lendo esse texto. Eu também não estou escrevendo pela trigésima vez sobre gostar de alguém. E tentando entender todos os 567 contras e 876 a favor. E tentando metaforizar um cheiro, um olhar, uma frase. E tentando descrever minha dor só para dar a ela algum patamar mais interessante do que a simplicidade de uma simples dor. E tentando supervalorizar minha alegria, só para dar a ela um gosto de vitória como se jamais fosse cotidiano ser feliz. Eu não estou de frente para uma folha em branco. Tentando tornar meus personagens mais interessante e meus sentimentos mais nobres. Eu estou de frente para eles, vendo que meu personagem pode ser sem graça e meu sentimento pode estar morrendo. Este é um não texto porque cansei da minha covardia em me contar um mundo que eu invento para viver melhor. Cansei de me contar um personagem só para que suspirar não seja um simples movimento involuntário. Cansei de me contar uma história linda, só para que os dias não corram sem magia e sem a certeza de um grande final de filme. Imagina só que vida chata se eu, ao invés de escrever um texto de amor, cheio de esperança, profundidade, dor, maluquice, tesão, estivesse escrevendo um texto assim: e ninguém é interessante e eu, pra ser sincera, não gosto de ninguém. Triste, muito triste. Chato. E pior do que tudo isso: anti-literário. Como é que um escritor vai se sustentar com um coração vazio? Mas chega. Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. Não decidi isso movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama. Não posso mais emprestar mistério ao vazio, vida ao oco, esperança ao defunto, saliva ao seco. Não posso mais emprestar meus desejos para que pessoas se tornem desejáveis. E, finalmente, não posso mais inventar amor só para poder falar dele. Recebo e-mails de muita gente que me fala “que coragem escrever assim sobre o amor”, “que coragem ir tão fundo na sua dor”, “que coragem sentir tantas coisas a flor da pele”. Mas pelo menos hoje quero me desafiar a fazer algo muito mais difícil. Quero não sentir nada. Quero descansar meu coração de saco cheio das minhas invenções e precisando se preparar para viver algo de verdade. Como será que é acordar e não esperar nada com o toque do celular, da campainha, do messenger, do e-mail, do ar, do chão? Como será que é sentir e gostar da vida pela sua calmaria e banalidade? Como será que é viver a banalidade sem achar que isso é banal? Este é um não texto. Pra falar de um não amor. Pra falar de um não homem. Pra falar de uma não fantasia, invenção, personagem. Esse é um texto a favor da vida, pra falar da vida. A vida com seus defeitos, cinzas, brancos, estagnações, paradas, frios, silêncios, amenidades. A vida que pode não acelerar o peito e deixar tudo com estrelinhas de purpurina. Mas que é incrível por ser real. A vida que não se escreve mas se vive, mesmo que isso, muitas vezes, seja ainda mais difícil que qualquer regra gramatical ou construção literária.
Por Tati Bernardi
http://www.tatibernardi.com.br
sábado, 24 de novembro de 2007
Enquanto esqueço um pouco a dor no peito
Não diga nada sobre meus defeitos
E não me lembro mais quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor assim descontraído..."
"A dor me maltrata a cada dia que passa, parece que não terá fim."
domingo, 18 de novembro de 2007
A Internet não é ringue
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
PALAVRAS E ATOS
Quando dizemos as coisas começamos a ensejar os seus efeitos, mas apenas quando o que afirmamos parte de convicções internas e sob o influxo de sentimentos sinceros.
Em um ser honesto a palavra corresponde à idéia que tem dentro de seu ser.
O que se diz é importante, pois, mas quando coincide com a energia que dimana de nossa mente.
Existem, portanto, falsas afirmações, promessas vãs, demagógicas, traiçoeiras cuja energia emanada da mente do malfeitor não corresponde ao texto do que escreve ou ao que fala.
Há quem diz “sim” pensando em “não”...
Há quem diga vou fazer isso, mas, pensando “nunca isso farei”...
A palavra só é sincera e digna quando se identifica com a idéia que procura traduzir.
Os falsários não falam com sinceridade, não escrevem e nem dizem o que deveras desejam ou pensam.
Esses seres viciosos vociferam o que os outros gostam de ouvir ou esperam escutar, mas, agem exatamente de forma contrária.
Mostram-se tocados pelo que dizem, chegam até a chorar para mascarar a falsidade que encobrem com as mentiras que pregam.
Essa foi e ainda é a plataforma dos tiranos, demagogos, vaidosos e paranóicos como o mundo político tem tanto, há milênios, apresentado e ainda hoje os mostra para o aplauso das massas ignorantes.
Não foram poucos os homens de rara inteligência e sabedoria que se rebelaram contra essas grossas mentiras e não temeram afirmar sobre o que sinceramente pensaram.
Um orador renomado, o padre Antônio Vieira, de forma destemida, na Capela real de Lisboa, em 1655, afirmou: “uma coisa é o governador e outra a coisa que o governa”.
E complementou em sua famosa pregação dizendo que “palavras sem obras são tiros sem bala”, metaforicamente comparando a luta entre Davi e Golias, quando o pequenino matou o gigante, como um efeito de sincera energia e não de barulhos enganadores.
Evocou também os fenômenos da natureza onde raios matam, relâmpagos são vistos por alguns, mas, trovões todos tendem a escutar.
Com isso desejou afirmar que palavras mentirosas, mas profusamente repetidas e alardeadas muito impressionam, mas, se não há realização que a elas corresponda acabam por produzir apenas o falso.
Não merece crédito quem diz uma coisa e faz outra...
A História julga esse tipo abjeto de gente, como o fez com Catilina, Calígula, Nero, Hitler, Stalin e tantas outras aberrações humanas.
Pensar firme e dignamente é começar a dar forma a atos dignos que se materializarão, porque se lhes dá energia competente para tanto.
Pensar indignamente mesmo falando e escrevendo palavras dignas é criar a oportunidade para que o mal se concretize porque há sempre uma inexorável vitória da essência sobre a forma.
Se a essência está deteriorada não há probabilidade de a forma ser sadia...
O sucesso nas relações, na vida, muito depende de comparar entre o que se escuta, lê e aquilo que se constata como realidade.
Há 2.500 anos Buda já afirmava que nunca se deve acreditar em algo simplesmente porque foi dito, mesmo quando quem diz tem poder ou porque a fala se repete por longo tempo, mas, sim somente naquilo que se comprova como verdade.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Elipse
E lá estou eu doida para ficar encharcada, doida de medo de explicitar tal disparate, porém. Você tem saudades? Eu cancelaria minha visita anual ao dentista, a festa do amigo, a manicure semanal, o cinema com a amiga, a aula que tenho de assistir, o curso que me comprometi a dar. Por mais dez minutos seus. Desmarcaria o sorvete com o irmão, a caminhada com o grupo, o corte de cabelo. Só para ficar com você sem dormir, sem fazer nada a não ser massagem nos seus pés, talvez. Desligaria meu telefone, sumiria de casa, nunca mais ligaria um computador e me livraria de todas as distrações mundanas, como livro, jornal, revista, sol. Quero parar de fingir que não me entrego, pois já me entreguei. Abandonaria meu emprego, meu carro, minha avó e cairia em seus braços que nasceram para me abraçar, embora tenham abraçado tantas outras antes, por engano. Quero falar que acredito, sim, em tudo que você diz pelo simples fato de ser você quem diz.
Tragaria toda essa paixão, a engoliria só para saber como pulmões e estômago responderiam a tal estímulo. Disponibilizaria todos os meus órgãos, meus poros a você, para não perder um segundo seu. E revelaria tal doidice em um alto-falante daqueles que exaltam as delícias da pamonha, para a cidade toda escutar. No entanto, a estiagem durou tempo demais: agora, na chuva, percebo que não adianta contar isso tudo. Não adianta tanto querer. Você já, já perceberá meu engodo. Provavelmente não sou tão bonita, elegante, alta, atleta, magra, inteligente, generosa, divertida assim. E certamente nem mesmo tão morena assim eu sou. Será que o amor rejeita elipses? Ou só vive por elas?
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
11/11/2007
sábado, 10 de novembro de 2007
Feio!
Diferente de tudo e de todos isso que me encanta,por essas e outras que você se tornou tão especial pra mim.Seu feio mais feio de todos.
Eu te amo!!!
Saudade que dói.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Sempre que uma situação começa a ficar boa ou simplesmente começa, solto minhas frasezinhas bombas. Não sei se com isso quero realmente foder a minha vida ou me proteger de me foder. Acho que segundos antes de explodir tudo, penso assim: se eu falar a frase mais errada do mundo, só os realmente fortes sobreviverão. O que eu não percebo é que no começo de alguma coisa, ninguém ainda é realmente forte para agüentar minhas frasezinhas bombas. E todo mundo, sem exceção, acaba correndo assustado. E no dia seguinte eu acordo com aquele misto de vitória com tristeza. Sozinha novamente. Como se isso fosse um prêmio mas também uma doença. Dentre as minhas frasezinhas bombas tenho três prediletas “to morrendo de saudades de você”, “a vida sem amor é uma merda” e “você me dá pouca atenção”. Quase nunca to morrendo de saudades de alguém, não existe a menor chance de eu amar algum desses trastes que me aparecem e caguei se eles me dão ou não muita atenção. Mas ainda assim falo, ainda assim mando uma frase dessas. Só pra ter o triste prazer de ver o covarde ficando branco, escondendo os dentes, enfiando o pinto no cu. E sumindo finalmente da minha vida. É o jeito que arrumei de me rebelar contra essa hipocrisia masculina. Eles podem dormir na casa da gente, enfiar o pauzinho no meio das pernas da gente, pedir uma torradinha com requeijão de manhã, mijar pra fora do nosso vaso, contar a vida deles e pedir mais carinho nas costas. Mas não suportam ouvir no dia seguinte um simples “gosto de você”. Covardes de merda. Odeio essa hipocrisia masculina. Se eles falam mil vezes que querem te ver é tesão e você não pode se assustar, mas se você falar uma única vez que quer vê-los, é porque você é uma mala que está “misturando sentimentos”. E eles podem se assustar. Que preguiça desse planetinha dos macacos e suas bananas. E sigo com minhas frases matadoras. “Pensei em você hoje”; “Voltei antes pra te ver”; “Vamos nos ver hoje?”; “Vamos comigo na festa da minha amiga?”; “O que você vai fazer no feriado?” E tenho cada dia mais nojo de como frases ditas pra ser agradável soam como um assassinato. E tenho nojo de pensar que quando você tira o controle deles, eles não sabem mais o que fazer com você. “O que eu vou fazer com uma mulher que eu já conquistei?” Que tal continuar conquistando todos os dias, seu idiota? Que tal viver uma história que passe da primeira página? Tenho cada dia mais nojo de como as pessoas se consomem e não se conhecem, não vivem nada. Não sabem nada da vida da outra a não ser o tamanho dos peitos e se o desenho dos pêlos é mais para Claudia Ohana ou bigodinho do Hitler. Sempre lembro de uma vez que fui passar cinco dias com um namorado no alto de uma montanha e ele me apareceu com um verdadeiro “kit putaria”. Passou antes no sex shop e comprou de óleo de massagem a roupinha de enfermeira. Tenho certeza que fez isso porque pensou “que porra vou fazer com uma mulher cinco dias em cima de uma montanha a não se trepar”? Se fosse algum dos seus amiguinhos eles poderiam rir, se divertir, beber, conversar, apostar corrida, jogar videogame, brincar na piscina, fazer trilha. Mas com uma mulher? Um ser estranho chamado mulher? Que porra ele iria fazer não é mesmo? Homens acham que a página 1 é trepar e a página 2 é casar. E como têm pavor da 2 (e quem disse que as mulheres também não têm?) acabam nunca saindo da 1. E nisso conversas incríveis, descobertas maravilhosas e histórias lindas morrem antes mesmo de nascer. Eles podem te comer mas jamais passear de mãos dadas com você. Isso tudo me dá um bode profundo. Mas no fundo tenho mais bode é de mim. Por ter dito frases desse tipo para pessoas sem nenhuma magia, sem nenhuma poesia. E que ao invés de enxergar beleza enxergaram “carne ganha”. E no fundo eu nem sentia nada por essas pessoas, estava apenas testando a hipocrisia do mundo. Estava apenas comprovando que se tratava apenas de mais uma “carne podre”. Acho de verdade que a puta da Glenn Close estragou a vida de algumas mulheres. Basta você dizer um inocente “você é legal” pro cara achar que você vai se mudar pra casa dele, mergulhar o poodle dele numa panela fervendo e parir trigêmeos bem no dia do futebol com os amigos. Da onde eles tiram que somos tão assustadoras? A gente só quer ter com quem rir no final do dia e ganhar alguns beijos no lugar certo. Nada muito diferente do que eles querem. Mas cansei. Definitivamente cansei. Cansei de um mero “nossa, tava pensando em você” equivaler a um “nossa, tava pensando em você de terno e gravata no altar de uma igreja”. Já que pouca coisa assusta tanto, decidi que agora vou jogar pesado. Daqui pra frente minhas frases matadoras vão ser de “quero ter um filho seu” pra pior. Quem quiser sair comigo vai ter de ouvir “posso dormir aqui?” ou ainda “acho que posso me apaixonar por você”. E quem sobreviver a esse verdadeiro extermínio de pretendentes, vai descobrir que eu sou só mais um ser que morre de medo do amor e da convivência. Vai descobrir que falo as frases erradas justamente pra espantar as pessoas e não ter mais trabalho. Mas de verdade (e dessa vez sem medo de assustar ninguém) adoraria encontrar alguém que resolvesse correr esse risco junto comigo.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Barraqueiros corações
Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar...”
Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente.
Sem reticências...
Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.
O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!
O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no Continental sem filtro da covardia e do desamor.
Mulher se acaba, mas diz na lata, sem metáforas.
Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.
O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.
Nem no Crato...nem na Suécia.
Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem uma quebradeira monstruosa.
Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.
O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.
O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.
O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente.
E vamos ficando por aqui, pois já derrapei na curva da auto-ajuda como uma Kombi velha na Serra do Mar... e já já descambarei, eu me conheço, para o mundo picareta de Paulo Coelho. Vade retro.
De Xico Sá.
Pôr-do-sol.
Ela está prestes a perder a graça. Mas ainda tem algumas horas. As melhores horas da sua vida. O banho que antecede o sexo é o melhor do mundo. Ela jamais perde tempo se sentindo por dentro, se valorizando tanto, como quando se prepara para alguém. Tem até aquele esfoliante de erva cidreira que ela só usa quando está se preparando para alguém.Escolher a roupa é o inverso de vestir um defunto. É como se fosse a última roupa do mundo, mas nesse caso para celebrar a vida. Uma roupa para sempre.Escovar os dentes também é uma tarefa mais cuidadosa quando se vai doar o gosto da vida para alguém. Ela escova a língua, bem funda, e não sente ânsia de vômito. Sente ânsia, mas é diferente. Uma explosão eminente que não vai explodir. O coração pode estourar, o estômago pode estourar, a cabeça pode estourar, mas não estoura. Ela inteira é uma festa de fogos de artifício que não acontece. Mas os olhos brilham o segundo antes de acontecer.Quando ela pega o elevador, é como se dissesse para cada um dos moradores do seu prédio familiar. É como se batesse na porta deles e dissesse que enquanto eles comem carne requentada com arroz sem graça. Que enquanto eles comentam que o Jornal Nacional ta um saco. Que enquanto eles atendem o telefone forçando uma simpatia aguda que soa como uma sirene de desespero. Ela vai dar. Ela vai dar. Ela vai dar. Ela vai provocar em alguém um mistério que para ela é a única coisa que importa no mundo e para eles mais alguma coisa sem importância. Apesar do mundo inteiro dizer que são os homens que dão mais importância para isso. O rádio nesses dias sempre colabora. Sempre toca músicas boas e aquele CD que andava sumido sempre aparece depois de alguma brecada. Aos pés da ocasião. Tudo está aos pés da ocasião. E o espelhinho então revela a mulher que ela é de verdade. Não aquela com preguiça de se pentear e com a sobrancelha por fazer. Mas a mulher que ela é. Ela nasceu maquiada, com esses olhos cheios de brilho e de vida, e essa boca querendo engolir o mundo, digerir o mundo, sentir o mundo, chupar o mundo. Nesses dias até sua coluna fica ereta. Músculos nascem, celulites morrem, cinturas afinam. Seu cheiro natural são todos esses artifícios que ela misturou para o grande momento. A mentira toda é a única verdade que existe.Sua rua não é apenas a rua que desemboca na rua que desemboca na avenida. Tudo é sedutor. Virar uma esquina, furar o farol, dar uma seta. Tudo compõe uma trilha de sexo. Tudo leva ao sexo. Ela vai dar. Ela vai dar. E a cidade até que é bonita com esses motoqueiros tirando finas. A cidade pulsa. E os bancos de couro ensebado dos táxis e as peruas Kombi. Tudo pulsa. Ela não tem nojo de nada. O halls preto purifica tudo, transforma o mundo em um lugar até que interessante e prepara seu hálito para o único momento que realmente importa nesses dias chatos. O momento em que ela vai arrancar tudo o que a protege de mergulhar em si mesma. Ela vai mais uma vez amar sozinha, mas tudo bem. Todos os outros dias que chegam para curar esse momento, nada mais são que a espera e a preparação para outro machucado. É como se ela fosse um ponto de interrogação incompleto. E precisasse daquele furo que vai ao final do ponto de interrogação. O pingo final de uma dúvida que começa nela e não termina em lugar nenhum. Para ela então poder ser inteira uma dúvida. Tão inteira que completa. E sentir o mistério da vida. E não entender nada mas estar no mundo. Ser mundana. E voar. E tudo isso de tão absurdo e maluco, vazio. E a dor do vazio. E tudo isso que vem depois. Mas ainda não é a hora. Por enquanto ainda tem graça dizer coisas malucas e forçadas e verdadeiras ao estilo “hoje acordei assim”. Por enquanto tem graça renegar um abraço ou abraçar com desespero. Por enquanto tem graça molhar o lábio inferior e prolongar ao máximo os segundos.E ela jura que todos que estão parados no trânsito sabem como ela cheira bem. Ela jura que todos sabem o quanto ela está limpa porque não existe limpeza maior do que os minutos que antecedem sujeira. Ela jura que vai transar com o mundo e o mundo vai transar com ela. Rússia, Holanda, Japão, todos sabem onde ela está indo. E todos vão com ela. Não existe poucos amigos, não existe “pequenices” de alma, não existe chorinhos baixos. O que existe é um mundo que pulsa no meio de suas pernas e o meio das suas pernas pulsando no mundo. É o minuto da alegria mais plena e da solidão mais povoada. Ela vai dar. Ela vai dar.O porteiro poderia morrer por ela. A mulher no elevador poderia mata-la. Ela é causadora de grandes catástrofes mas também poderia salvar o mundo.Quando ele abre a porta, seu coração se parte em dois. Ela sabe que se trata do ser mais amado do universo. Mas sabe que também se trata de mais um ratinho de laboratório que tem vida e importância curtas. Ela vai precisar ama-lo desesperadamente para conseguir se abrir. Mas ela sabe que isso é apenas uma droga barata e não proibida que ela toma para sentir a vida e poder comer a si mesma. E depois vomitar a si mesma. E resgatar seus pedaços azedos como um porco faminto. Ela sabe que tudo só acontece dentro dela.Ela está prestes a perder a graça. Mas ainda faltam alguns minutos. Os melhores minutos da sua vida. Naquele minuto que antecede uma coisa tão banal quanto encaixar duas pecinhas de lego para formar uma ponte, ela é a única mulher do mundo. E se ela disser que quer morrer, comer um abacaxi ou escutar o som de um dedão do pé estalando. Ela será a única mulher do mundo. A melhor do mundo. E então a vida, maravilhosa como é, diz baixinho no ouvido dela: ir embora agora, sendo a única mulher do mundo, mas não trepar com esse cara. Ou trepar com esse cara e ser apenas mais uma mulher do mundo. E então, apenas porque também precisamos da banalidade para não explodir com a vida, ela abre as pernas e perde totalmente a conexão com a Rússia, a Holanda e o Japão.E as ruas são apenas ruas. E os motoboys, e as peruas Kombi, e os taxistas. E os faróis infinitos. E tudo leva a um caminho longo de queda sem almofadas. E o espelhinho revela uma mulher que precisa de banho e demaquilante. O CD some novamente e o rádio toca mais uma modinha idiota. E ela é só mais uma. Mas pelo menos ela deu. Ela deu. Ela deu.
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Sei tão pouco de você. Qual seu prato preferido, pizza, churrasco, salada? Será que come milho? Não sei se gosta de voar, se já esquiou na neve, se anda bem em pedra, não foge de água funda. Se prefere Chico a Caetano, gato a cachorro, inverno a verão. Se é analógico ou digital, tecnológico ou simples. Não conheço seus pais, irmãos, não tenho idéia se é melhor em pingue-pongue ou pebolim; em vôlei ou basquete. Não sei se caminha, se conhece Praga, Japão, Havaí, qual a viagem mais sensacional que já fez. Se é homem do mar, do mato, urbano.
Sei, sim, que gesticula sem parar quando fala. Nessas horas acompanho, hipnotizada, suas mãos no ar.
Será que gosta de surfar ou prefere mergulhar? Ou troca os dois por uma cerveja gelada na sombra de uma amendoeira? Aliás, gosta de uísque? Cidra? Tequila, será? Ou apenas água? Não conheço seus medos. Não sei dos tombos que levou, pouco posso inferir sobre sua cor preferida. Azul? Laranja? Preto? Não sei se gosta de dormir de bruços, encolhido. E de manhã, torrada ou pãozinho? Fruta ou iogurte? Ou tudo junto e mais ovo mexido e café preto? Não sei a marca do seu creme dental, quantas vezes faz a barba por semana, se usa protetor solar como sua dermatologista gostaria.
Sei, sim, que franze a testa e em seguida sorri só com os lábios quando fica curioso.
Será que samba bem? Teria paciência para ensinar-me? Costuma chorar? Por qual motivo? Novela, música, pela perda de alguém querido, ao cair de mal jeito em uma partida de futebol? Ou será que segura tudo e dissolve com remédio para úlcera depois? Sentava nas cadeiras da frente ou nas de trás na escola? Tirava notas altas? Já combinava tão bem bom humor e seriedade naquela época? Será que lê mexendo os lábios? Toca violão, decorou o hino nacional inteiro, sabe declamar I-Juca Pirama "Sou bravo / sou forte / Sou filho do Norte"? Sei lá.
Sei que meu rosto vibra quando imagina as pontas dos seus dedos se aproximando.
Nada sei de antigas namoradas, quem o feriu, se você aprontou, se fugiu, foi bobo, criança. Se vê televisão no domingo à noite. Quais são seus piores defeitos? Seus vícios? Acho que isso não quero saber não. É teimoso, estabanado, egoísta? Crê ou duvida? Será que percebe ironias, inseguranças? Desconfio que você consegue me ver, mesmo com os meus habituais disfarces ativados.
Mas não sei e não perguntarei. Quero descobri-lo aos poucos, como se você fosse um livro intrigante que me tenta a uma leitura rápida, porém que vale uma cuidadosa pesquisa para que possamos desfrutar melhor cada capítulo, folha, linha, palavra, espaço.
Conheço seu olhar um segundo antes de me beijar. E gosto. Por hora, isso basta.
sábado, 4 de agosto de 2007
Melhor impossível!
terça-feira, 24 de julho de 2007
PERFEITAAAAAAAAAA
Quando você me vê eu vejo acender
Outra vez aquela chama
Então pra que se esconder você deve saber
O quanto me ama...
Que distancia vai guardar nossa saudade
Que lugar vou te encontrar de novo
Fazer sinais de fogo
Pra você me ver...
Quando eu te vi, que te conheci
Não quis acreditar na solidão
E nem demais em nós dois
Pra não encanar...
Eu me arrumo, eu me enfeito, eu me ajeito
Eu interrogo meu espelho
Espelho que eu me olho
Pra você me ver...
Porque você não olha cara a cara
Fica nesse passa não passa
O que te falta é coragem...
Foi atrás de mim na Guanabara
Eu te procurando pela Lapa
Nós perdemos a viagem...
Quando você me vê eu vejo acender
Outra vez aquela chama
Então pra que se esconder você deve saber
O quanto me ama...
Que distancia vai guardar nossa saudade
Que lugar vou te encontrar de novo
Fazer sinais de fogo
Pra você me ver...
Quando eu te vi, que te conheci
Não quis acreditar na solidão
E nem demais em nós dois
Pra não encanar...
Eu me arrumo, eu me enfeito, eu me ajeito
Eu interrogo meu espelho
Espelho que eu me olho
Pra você me ver...
Porque você não olha cara a cara
Fica nesse passa não passa
O que te falta é coragem...
Foi atrás de mim na Guanabara
Eu te procurando pela Lapa
Nós perdemos a viagem...
E quando você me vê eu vejo acender
Outra vez aquela chama
Então pra que se esconder você deve saber
O quanto me ama...
segunda-feira, 9 de julho de 2007
Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só pra te levar pra casa
Depois de um dia normal
Olhar teus olhos de promessas fáceis
E te beijar a boca de um jeito que te faça rir
Hoje eu preciso te abraçar
Sentir teu cheiro de roupa limpa
Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz
Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria
Em estar vivo
Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar
Me dizendo que eu sou causador da tua insônia
Que eu faço tudo errado sempre
Hoje preciso de você
Com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje
quarta-feira, 4 de julho de 2007
Eu quero ser enganada
Amor amandita
domingo, 1 de julho de 2007
Quem sabe um dia.
Hoje eu chorei com o caminhão de gás
Mais uma festa
sábado, 30 de junho de 2007
Mais uma mensagem minha voltou. Pelo menos essa voltou. E as outras que vão, não voltam, mas tampouco chegam ao seu destino? Tantas haverá que escrevi, postei, enviei, mas sem que eu soubesse, não foram recebidas. E, pior, há as que chegaram diferentes. A mensagem foi recebida, mas o que é lido não foi o que escrevi, mas o que o outro queria que eu tivesse escrito. Ou esperava. Ou talvez nem se deu ao trabalho de ler direito. Ou não entendeu. Ou não quis entender. Ignorou. E assim, todos os dias, tantas mensagens ficam, passam e se perdem em uma multidão de mal-explicados, mal-entendidos, não-me-toques. Se já é difícil saber qual mensagem quero mandar, mais difícil ainda fica quando não sei o que será recebido. Se recebido for.
Mais uma mensagem minha se perdeu. E penso não mais nas mensagens perdidas, mas nas que você me mandou e alegraram meu dia, nem sempre pelo conteúdo, mas pela delicadeza da forma (adoro quando você é delicado ao escrever, deveria praticar mais; ou será que não, será que isso sou eu tentando interferir na mensagem que você manda para mim?). Será que também meu provedor por vezes se intromete na nossa troca de palavras e deixa de entregar mensagens suas para mim?
Mais uma mensagem minha para você voltou. E fico pensando se você ainda lê as mensagens que chegam. Ou se lê e não gosta, por isso se cala. Ou se lê e acha que me repito. Ou se lê e acha que me perdi e vem me procurar. Ou se enjoou de mim, como é de seu feitio. Para que escrevo, para que coloco meus dias, ainda jovens, em cadeira, caderno, tela? Por que tento tocar sem saber bem qual música sairá deste desafinado teclado? Por que junto palavras ao léu, senão para imaginá-lo lendo-me?
Mais uma mensagem minha para você se perdeu. Será que o perdi de vez? Ou será que esta você receberá?
terça-feira, 29 de maio de 2007
domingo, 27 de maio de 2007
Parece que o mau humor está na moda
O que nos chama para dentro de nós mesmos
Memória...
sexta-feira, 25 de maio de 2007
Porque?
Será que você ainda me ama?
Será que você apenas sente falta dos meus carinhos?
Ou será que eu sou apenas uma lembrança boa?
Bateu saudade ou vontade de me quer?
Gostaria de saber!
quinta-feira, 24 de maio de 2007
BEIJOS A TRÊS
Eu sabia que existia. Por ouvir falar, pela literatura, pelo cinema, televisão e outros locais tais que se prestam para as “crianças” chegarem em casa às seis da manhã.Mas nunca tinha visto. Em público, especialmente.O cenário era entre carros estacionados, a calçada e a faixa de rolamento na Rua Riachuelo, quase Dores, amada Porto Alegre.Duas dessas crianças que já têm bunda, seios e corpos mais lindos que muitas dessas divas televisivas, uma delas (calça azul) grudada numa outra de sexo masculino – um guri menor que elas – e passando muito bem (Que inveja!).Mas até aí tudo bem (?), que os costumes se ampliam, se relaxam e a sociedade é como é. E pronto!Após mais de uma volta no quarteirão para tentar estacionar, a surpresa: A que beijava despegou-se do guri e outra (calça vermelha, igualmente jovem e roliça) imediatamente grudou-se nele para beijá-lo. Juntas, apenas separadas porque o “cara” não dispunha de duas bocas.Caso dispusesse, por certo estariam ambas a beijá-lo ao mesmo tempo.
Aniversário
Gostar de quem gosta de mim...
Ana marrie
quarta-feira, 23 de maio de 2007
Eu...
Não importa, vou vivendo e vendo o que vai me restar.
domingo, 20 de maio de 2007
Mulherzinha
Hoje eu acordei mulherzinha. Mulherzinha, mulherzinha, mulherzinha. Estranho. Vesti-me cor-de-rosa. Comecei a ler romance meloso, assisti três novelas diferentes. Não me importei quando me questionaram se eu era "senhorita" ou "senhora". Acordei assim. Sem vontade de falar o que penso porque poderia irritar os outros. Sem paciência de discutir ao ouvir alguma das costumeiras barbaridades do dia-a-dia, cansada só de me imaginar nadando um pouco que fosse contra a corrente. Morrendo de preguiça de levantar peso, abrir garrafa de vinho, trocar a lâmpada queimada da sala. É. Acordei mulherzinha, decidi agradar a todos, sorrir sem motivo, concordar, manter a voz macia. O que eu mais desejava era receber um abraço bem apertado de um moço que dissesse que iria cuidar de mim, que eu não precisaria me preocupar com absolutamente nada. Então eu tomei uma aspirina e passou.
segunda-feira, 14 de maio de 2007
Feio seu cara de melancia! aaaaaa..rs
Truco. TRUCO. TRUUUUCOOOOOOOOOO! Olhava sua cara de melancia e só pensava em trucar. Não dava para voltar, só restava avançar, pedir mais, ó ambição. Você me fazia trucar. Querer trucar. Eu costumo adotar a cautela, observar antes de agir, de subir na mesa, de exigir mais, três, seis, nove. Mas olhava e não via. Cara de melancia. Se ainda fosse tangerina que é fácil de saber o que tem por dentro, basta uma apalpada na casca... Ou banana, que vai ficando mais pintadinha (a d'água) ou manchada (a prata) na medida em que o tempo passa.Mas melancia... poxa melancia... como adivinhar o interior de uma melancia? Dizem que o segredo é bater na base e ouvir um barulho oco: sinal de fruta suculenta. E a doçura, quem garante? E como usar dessa técnica tão subjetiva no meio daquele jogo e você com a cara de melancia? Não tem como escolher, é chute mesmo. Como saber se está boa? Não dá, não dá. Ah, mas como eu queria trucar. Mesmo sem ao menos desconfiar o que me reservaria por dentro. Se o vermelho já estaria passado, farinhento, se a quantidade de caroços era exagerada. Sabia nada, era uma aposta na névoa. Não era uma opção. Tinha de trucar. Eu queria tudo. Eu queria mais. Que cartas escondia você nas mãos? Manilha? Zap? Nadinha de nada? Eu ignorava. Sabia, porém, que a melancia na minha frente me dragava ao ciclone nem sei se bom ou mau; inevitável tempestade, sábio vovô. Minha vida, uma pasmaceira, e meu avô, pescador, sempre dissera que depois da calmaria, tormenta. Minha mão não era especialmente boa. Podia perder a rodada, que até então estivera equilibrada. Mas perder o jogo por desistir, por jogar as cartas fechadas sem saber o que você tinha... Poxa, não dava. Preciso tentar, melhor morrer sabendo a ignorar retirando-me, como um general que recua ao ver o cavalo do adversário. Chegamos até aqui, não há volta. Eu truco, eu truco, eu truco, truco, truco, vou continuar trucando. Até ganhar ou perder. Truco. Até sair rindo ou chorando. Truco. Até levar meu triunfo, meu prêmio ou recolher-me só, pensar no que aconteceu e partir para outra. Mas você com esse rosto de melancia que não se entrega há de ter um deslize, um segundo de verdade, que dará um sinal e eu vislumbre o vermelho do interior. Estará mais para o vinho, forte, embriagante, convidativo? Ou esbranquiçado, cheio de fibras, difícil? Receptivo à minha boca faminta ou, ao contrário, rejeitará minha aproximação oferecendo-me um gosto enjoativo, óbvio, sem-graça?Enquanto tento adivinhar, continuo trucando, aos gritos, aos sussurros, ora implorando, ora exigindo, mas sempre obcecado pelo vermelho-redemoinho da sua polpa impenetrável.
Troca...
Troca-troca Por Luciana Pinsky
Nós éramos um casal dissonante, vivíamos aos trancos como bicicleta em rua de paralelepípedo. Até que por puro acaso encontramos nossa combinação perfeita: eu bêbada e você sóbrio. Viramos goiabada com queijo branco, café com chantili, acarajé com vatapá. Acordo inédito esse, visto que eu me recuso a beber e você se recusa a parar de beber. Porém daquela vez, sei lá por qual motivo, aconteceu. Experimentei algo que me deram, estava agradável, refrescante e lá fui eu. Você, estranhamente, recusou. E, pronto: o pedal da bicicleta ficou macio, como a pele daquela atriz de porcelana brilhando na tela. Não, não reclame, não é difícil apenas para você, querido. Descobrir que fico muito mais interessante quando fujo de mim foi um pequeno choque. É duro admitir, eu uma cartesiana disfarçada de romântica. Eu, uma defensora do mundo ideal, mas que me divirto mesmo nas sombras. Com umas dosesinhas, gosto mais de mim. Rio mais. Converso mais. Beijo mais. Você, meu bem, é o oposto. Quando bebe arrasta voz, ronca, morre de ciúmes, fica meloso a mais não poder. É praticamente uma mulher histérica. Ri sem parar, não fala coisa com coisa, se faz de bobo, justo você, tão inteligente. Pronto, está instituído. Eu vou renunciar ao chá de capim santo do fim da tarde em favor de uma pequena, porém certeira, dose de uísque. E você, por favor, troque, de vez, o chopp pelo suco de laranja. Só assim viveremos um delicioso passeio de bicicleta no parque de Pituaçu.