terça-feira, 24 de julho de 2007

PERFEITAAAAAAAAAA

Sinais De Fogo

Quando você me vê eu vejo acender
Outra vez aquela chama
Então pra que se esconder você deve saber
O quanto me ama...
Que distancia vai guardar nossa saudade
Que lugar vou te encontrar de novo
Fazer sinais de fogo
Pra você me ver...
Quando eu te vi, que te conheci
Não quis acreditar na solidão
E nem demais em nós dois
Pra não encanar...
Eu me arrumo, eu me enfeito, eu me ajeito
Eu interrogo meu espelho
Espelho que eu me olho
Pra você me ver...
Porque você não olha cara a cara
Fica nesse passa não passa
O que te falta é coragem...
Foi atrás de mim na Guanabara
Eu te procurando pela Lapa
Nós perdemos a viagem...
Quando você me vê eu vejo acender
Outra vez aquela chama
Então pra que se esconder você deve saber
O quanto me ama...
Que distancia vai guardar nossa saudade
Que lugar vou te encontrar de novo
Fazer sinais de fogo
Pra você me ver...
Quando eu te vi, que te conheci
Não quis acreditar na solidão
E nem demais em nós dois
Pra não encanar...
Eu me arrumo, eu me enfeito, eu me ajeito
Eu interrogo meu espelho
Espelho que eu me olho
Pra você me ver...
Porque você não olha cara a cara
Fica nesse passa não passa
O que te falta é coragem...
Foi atrás de mim na Guanabara
Eu te procurando pela Lapa
Nós perdemos a viagem...
E quando você me vê eu vejo acender
Outra vez aquela chama
Então pra que se esconder você deve saber
O quanto me ama...

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Só Hoje

Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só pra te levar pra casa
Depois de um dia normal
Olhar teus olhos de promessas fáceis
E te beijar a boca de um jeito que te faça rir
Hoje eu preciso te abraçar
Sentir teu cheiro de roupa limpa
Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz
Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria
Em estar vivo
Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar
Me dizendo que eu sou causador da tua insônia
Que eu faço tudo errado sempre
Hoje preciso de você
Com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje

Show perfeito do Jota Quest no sábado 07/07/2007.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Eu quero ser enganada

Todo mundo sabe que Acarajé com Vatapá vai terminar em dor de barriga no dia seguinte. Mas imagine só se o dono do restaurante avisasse: tudo bem, senhorita, mas coma sabendo que você vai acordar se cagando toda às três da manhã e, por causa do calor e ar seco, vai acabar também desidratada e vomitando bile. Você se aventuraria a ter os melhores trinta minutos do seu verão comendo tais iguarias? Dificilmente. Você sabe que uma pizza inteira não combina com os ponteiros do relógio avisando que já passa das onze da noite e sabe perfeitamente que se o peixe cru estiver "passado" é hospital na certa. Mas tem prazer maior do que dormir preenchido até a testa da melhor invenção do planeta ou mergulhar os molenguinhos no shoyo? Agora imagine se o entregador de pizza te contasse que depois de devorar tanta massa e tanto queijo você vai sonhar com o espírito sem cabeça do Saddam invadindo o seu quarto? Imagine se o baiano do restaurante japonês fizesse um discurso sobre salmonela enquanto você tenta se divertir com seus amigos? Sabemos bem dos perigos do mundo. Você sabe que não deve pegar aquela faixa de ônibus vazia na Rebouças, ainda que as outras pistas permitidas estejam paradas há mais de uma hora. Você sabe que não deve beber muito champanhe na festa da firma sem ter nada no estômago. Sabe que deve evitar multidões (eu pelo menos sei), evitar pastel de feira com aquele óleo preto que já dura meses, evitar falar mal dos outros, mentir, falar o nome de Deus em vão e comer amanteigados e suas gorduras trans. Mas vai dizer... vai dizer que meter o pau na estúpida que foi eleita a mais gostosa da firma não é uma delícia (sem trocadilhos, tô falando de falar mal mesmo)? Vai dizer que ver todo mundo se fodendo naquela avenida sebosa e só você naquela faixa proibida não é apoteótico? Que pagar um bom mico na festa da firma não pode ser a coisa mais engraçada da sua vida? Bolachinhas gordurosinhas fazem valer qualquer veia entupida, se acabar de dançar até desmaiar num ensaio de escola de samba faz valer essa encarnação no Brasil, mentir que você tem médico e ir brincar de médico com o novo estagiário pode ser ainda melhor que pastel de feira. Deus meu, e como pode! Mas você não quer saber antes. O valor da multa, a queimação da gastrite, o tempo que dura uma mentira, o dia do juízo final, a vergonha do dia seguinte, o desmaio. Tudo isso te espera, você sabe, você pressente, mas você não quer saber antes. Você não quer tragar a vida vendo a fotinho do pulmão preto do outro lado do maço. Você sabe que ela está lá, mas você só enxerga o slogan "um raro prazer". Ninguém vive a vida pensando no dia seguinte, caso contrário, apenas deitaríamos e esperaríamos a morte. Afinal, como dizem por aí: só ela é certa. Então, por que raios os homens resolveram agora, ao menos comigo, pular toda a introdução melosa, fictícia, cinematográfica e maquiavélica da sedução e ir direto ao assunto? Acabo de receber a trigésima proposta da semana: oi, você gostaria de dar para mim? Eu sei que sou culpada. Eu sei. Primeiro eu publico um texto no meu site dizendo que estou há meses sem sexo de qualidade. Depois lanço um livro chamado "A mulher que não prestava". Fora que sou uma mocinha nada Barbie (com uma coluna na Vip, só pra piorar) e minimamente inteligente, daí aos trogloditas acharem que não mereço ser enganada e irem direto ao assunto. Agradeço a consideração. Mas assim como estraga saber antes que o vatapá pode ser assassino ou que muito vinho pode causar cirrose hepática, que mulher quer ouvir: muchacha da teta satisfatória, eu vou te comer lindamente, mas vou acordar no dia seguinte dando a você a mesma importância que dou ao novo filme do Didi Mocó? Homem é tosco mesmo. Ou prometem trigêmeos numa vida de bangalôs e estrelas ou te olham com aquela cara de açougueiro. Caminho do meio, rapazes! Já diria o Buda. Em tempo (melhor explicar): e ele não estava se referindo a uma vagina. Não, eu não quero que ninguém me prometa nada que não possa me dar. Sou realmente uma mulher inteligente, moderna, bacana e se for para abrir as pernas para um ator, prefiro que seja logo para o Caco Ciocler (tô tarada por esse cara). Mas eu definitivamente preciso do glamour da sedução. Quem não precisa? Um homem só deve ir direto ao assunto se for redator publicitário e tiver de vender um produto em um banner de Internet. Mas na vida real... mais empenho, rapazes! Ou: prostitutas têm aos montes, e bem mais gostosas e divertidas do que eu. Custam menos também, já que tenho gostos refinados e adoro presentes caros. Eu definitivamente quero ser enganada. Nem que seja por uma única noite de prazer. Eu quero sim que abram a porta do carro para mim, que o restaurante seja à luz de velas, que o cd do carro seja bom, que ele use perfume, coloque sua melhor camisa e me diga coisas inteligentes. Afinal, muito melhor do que uma bela trepada é poder ligar para as amigas no dia seguinte e dizer: se aquele filho da puta só queria me comer, por que me enganou? Desgraçado!

Tati Bernardi

Amor amandita

Já que não estou nem aí se ele percebe ou não minhas celulites e estrias, desfilo pelada e tranquila, enquanto como uma caixa de amanditas. Ele arregala os olhos: o que essa louca ta fazendo pelada no meio da sala sendo que a gente ainda nem se beijou? Ele pede pra usar o banheiro, talvez pra conferir o bafo ou a cor da cueca. E eu me vejo na típica situação que qualquer mulher louca adoraria: sozinha com sua carteira e celular. To nem aí de saber sua vida. A quantidade de recadinhos femininos no seu celular ou de canhotos suspeitos no seu cheque têm a mesma importância pra mim que a quantidade de carrapatos no cachorro do vizinho. Ignoro qualquer pista e continuo devorando minhas amanditas, esse sim um assunto importante. Se ele vai ligar amanhã? Não sei, não quero saber e não tenho raiva de quem sabe. Não tenho raiva de ninguém. Não tenho raiva das moças que já passaram pelo seu corpo, não quero degolar as moças que talvez ainda passem e tampouco me chatearia pensar que muitas ainda passarão. Não me importa se você vai ficar meia hora ou uma hora inteira. Não me importa se o homem que vai sair do banheiro gosta mais ou menos de mim ou por inteiro. Nada me importa, a não ser o desejo de te empurrar naquela cama e experimentar de novo aquele movimento meio ponto e vírgula que você faz. Não sei explicar. Não lembro o nome de ninguém da sua família, não quero conhecer seus amigos, não preciso que você me abrace depois e não faço questão de ser a mulher da sua vida. O que me importa mesmo, e isso sim mais do que as minhas amanditas, é que você tem o dito cujo meio torto, de uma tortura que encaixa em algum lugar que eu nem conhecia. Talvez eu fosse virgem de cantinho antes de te conhecer. Você me preenche e me cavoca como ninguém. Não tenho medo de parecer vulgar caso você me queira de quatro. Não tenho medo de ficar barriguda caso em vá por cima. Não tenho medo de ficar com cara de idiota ou de gritar muito alto. Não tenho medo de nada, afinal, a gente só tem medo do que a gente ama. Se me der sono eu durmo, se me der vontade de falar um palavrão alto, falo. Se me der vontade de te expulsar da minha casa: rua! E o mais fantástico de tudo é que já que estou tão à vontade, já que meu cérebro louco não está vivendo nem no passado e nem no futuro e apenas no presente do seu corpo quentinho e cheiroso e já que nada em mim dói porque nada em mim sonha... eu nunca senti tanto prazer em toda a minha vida. Será que não amar ninguém e amanditas são o segredo da felicidade?
Tati Bernardi

domingo, 1 de julho de 2007

"Porque chorar por alguém que não te ama?"Porque tocou logo essa musica agora?Q merda ..eu juro ..juro mesmo..que estou tentando com todas as minhas forças,mais não estou conseguindo.Porque?porque?Fotos,mensagens,cartas, flores, ferrero roché e de quebra logo essa musica bem tosca pra me fazer lembrar de você que está tão longe de mim e tão vivo em meu pensamento.Um dia eu juro que eu vou conseguir.E um dia eu sei que você vai gostar de mim o quanto eu gosto de você.
Quem sabe um dia.

Hoje eu chorei com o caminhão de gás

A primeira coisa que eu vi quando abri os olhos foi a minha cachorrinha me espiando triste do corredor, eram quatro da manhã e eu já sabia que não iria dormir mais. Meu sono é interrompido de duas em duas horas por um pânico horrível que paralisa meus órgãos e só deixa viva a bile que toma todo o meu corpo e me faz querer vomitar até virar do avesso. Eu arregalo os olhos para o teto, fecho minhas mãos com uma força que quase faz com que minhas unhas cortem minhas palmas e deixo a onda da dor vir, ela me sacode inteira, me joga numa profundidade sem som e me afoga por completo. Abro as janelas porque preciso de ar, mas nunca tem ar para meu pulmão afogado. Coloco o santinho que meu avô me deu no peito e peço a ele: você já morreu por amor, não deixe acontecer o mesmo comigo. Amar dói tanto que você volta a lembrar que existe algo maior, você se lembra de Deus, você se lembra de vida após a morte. Amar dói tanto que você fica humilde e olha de verdade para o mundo, mas ao mesmo tempo fica gigante e sente a dor da humanidade inteira. Amar dói tanto que não dói mais, como toda dor que de tão insuportável produz anestesia própria. Você apela pra todo e qualquer santo, pra cartomante, pra ex-namorado, pra tarólogo, astrólogo, psicólogo, numerólogo, amigo e apela até pra inimigo. Qualquer um, pelo amor de Deus, tire essa dor de mim. Não adianta, não vou dormir mais. Mas vou fazer o que então? Minha cama me lembra você, minha cachorra me lembra você, beber água me lembra você, viver me lembra você. Vou me levantar agora e ir para onde? Tomar banho? Tomar café? Não tenho nenhuma vontade de existência, seja de vaidade ou gula. Só quero ficar deitada, mas ficar deitada também dói. O mundo não tem posição confortável pra mim, aonde vou, essa merda de dor horrível vai junto. Chorar não adianta, eu seco de tanto chorar e não passa. Ver TV, falar ao telefone, dançar, gritar, escrever, abraçar minha mãe, tomar suco de manga… nada adianta. Eu sei, eu sei, o eterno clichê “isso passa”. Passa sim e, quando passar, algo muito mais triste vai acontecer: eu não vou mais te amar. É triste saber que um dia vou ver você passar e não sentir cada milímetro do meu corpo arder e enjoar. É triste saber que um dia vou ouvir sua voz ou olhar seu rosto e o resto do mundo não vai desaparecer. O fim do amor é ainda mais triste do que o nosso fim. Meu amor está cansado, surrado, ele quer me deixar para renascer depois, lindo e puro, em outro canto, mas eu não quero outro canto, eu quero insistir no nosso canto. Eu me agarro à beiradinha do meu amor, eu imploro pra que ele fique, ainda que doa mais do que cabe em mim, eu imploro pra que pelo menos esse amor que eu sinto por você não me deixe, pelo menos ele, ainda que insuportável, não desista. Minha cachorra pede um biscoitinho, aí eu choro porque eu lembro que você adorava dar biscoitinho para ela. Está sol, e eu choro porque você ficava feliz com o sol e você feliz era tão perfeito que eu tinha medo. Aí eu vou escovar meus dentes e choro porque você tirava sarro da minha escova elétrica, depois eu faço xixi e choro porque a gente tinha liberado o xixi de portas abertas. Eu abro o guarda-roupas e choro porque eu não quero ficar bonita, eu não quero dar a volta por cima, eu não quero ficar bem pra você ver que eu estou bem e quem sabe ter saudades. Choro porque acho ridículo os jogos da vida, qualquer coisa é ridícula perto desse amor que é tão simples e óbvio. Quando finalmente eu consigo me arrumar em meio a esse rio de lágrimas, eu choro porque o caminhão do gás passou e aquela musiquinha idiota, mais algumas crianças berrando na quadra lá embaixo e mais dois passarinhos cantando na minha janela, me lembram que a rotina, a alegria e a pureza ainda existem, apesar de você não estar mais aqui. Nada, nada aconteceu para o mundo. E eu me sinto minúscula e sozinha por não ter a cumplicidade da vida lá fora, por não ter um minuto de silêncio pela nossa morte, por ter que sentir tudo isso sozinha, entre escovas de dentes, xixis e roupas dobradas e cheirosas. Odeio a ordem de tudo, odeio a funcionalidade de tudo, odeio que a TV ligue, que o telefone toque, que meu estômago peça comida, que japonesas riam fora de hora, que meu carro corra, que a bola quique duas vezes antes e, principalmente, que você, não muito longe daqui, sorria. Dirijo até meu trabalho sem nada dentro de mim a não ser um monstro parasita que se alimenta do meu desespero, nenhum farelo de comida. Meu lado da frente está quase colando ao de trás, talvez na falta de você eu precise mesmo me juntar mais a mim mesma. Minha mesa está lá, meu lixo está lá, minha cadeira, a menina grande que fala igual a um homem, a gordinha solícita que não pára de me olhar até que eu olhe para ela, sorria e diga bom dia. Está tudo lá, mas você, mais uma vez, não está aqui. Vou para o banheiro e choro, que novidade? Mas dessa vez porque me olho no espelho, e isso também me lembra você. Eu era sua, a sua menina, a sua criança, a sua mulher, a sua escritora predileta, a sua parceira de dar risada de programas estúpidos que passam de madrugada na TV, a sua namorada sensível que tinha medo de vomitar e de amar demais, assim como você. A sua melhor amiga pra sentar num banco de praça e falar mal de todo mundo, pra perder um trem na Itália e ainda por cima sentar num chiclete fresco ou pra cuidar do nosso porquinho de pelúcia. Eu era a mulher que encaixava a cabeça nas suas costas e sabia que tinha nascido a partir de você, eu era a mulher que esperava sofridamente você voltar mas nunca deixou de te amar mesmo quando você ia. Todo mundo me fala que eu preciso ser minha, inclusive pra ser sua, mas eu não deixo de olhar para o espelho e ver uma metade de gente, uma metade de sonho, de sexo, de alegria e de futuro. Que se foda a auto-ajuda, que se fodam os livros com homens carecas, que se foda o terceiro olho (do cu?) e que se foda a psicologia: eu sou mesmo metade sem você e que se foda! Se antes de você aparecer eu já te amava, eu já te esperava, eu já sabia que você existia, como eu posso não te amar agora que você tem forma, sorriso, coração e nome?

Mais uma festa

Um a um foram chegando, e eu somando a quantidade de amor que tenho no mundo. Mais ou menos 50 pessoas foram, somando com mais um monte de e-mails e mais um monte de ligações, é… até que sou bem amada. Calma, você é amada, tá vendo? Não precisa mais ficar em casa de pijama assistindo Woody Allen, você é amada. É que dá uma preguiça de existir. Comemoro que estou viva, no meio da confusão que é comemorar ter amigos, comemorar a blusa nova, comemorar que tenho emprego e, por isso, amigos e roupa nova, comemorar que fiz progressiva na franja, comemorar que não sou um alien e consigo socializar, comemorar que existo dentro de uma comunidade que me aceita e até sai de casa pra tentar achar uma ruazinha difícil pra caramba. Sorri em todas as fotos, esgotei minhas piadas, desfilei abraços, toquei em muita gente, ganhei alguns presentes, fiz bem meu papel de “olha que legal, estou aqui, mais um ano se passou e eu continuo achando que vale a pena estar aqui”. Um a um vão embora, e eu somando a quantidade de amor que vai embora. Sobram os loucos e suas insônias, sobra o garçom cansado que não agüenta mais os loucos e suas insônias. Sobra uma latinha num canto, seis cadeiras solitárias formando uma rodinha animada, muitas bitucas que insinuam um animado papo que não existe mais. Sobro eu, novamente. A vida, a noite, as festas, tudo continua igual. O mesmo fedor de cigarro no cabelo, o mesmo homem bonito me olhando de longe, o mesmo homem bonito que, quando chega perto e abre a boca, eu gostaria que tivesse permanecido longe. O mesmo ânimo em pertencer, a mesma alegria em comemorar, a mesma festa em se encontrar. Mas ninguém sabe exatamente ao que pertence, o que comemora e muito menos o que encontra. Atravesso a rua sozinha, carregando uma sacola cheia de presentes e cartinhas. Entro sozinha no meu carro, ouço de novo a música da semana, sigo em frente. Carrego o afeto que ganhei numa sacolinha rosa, mas dentro do meu coração é sempre esse saco furado e negro. Por mais que todas as terapias do mundo, todas as auto-ajudas do universo e todos os amigos experientes do planeta me digam que preciso definitivamente não precisar de você, minha alma grita aqui dentro que, por mais feliz que eu seja, a festa é sempre pela metade. É você quem eu sempre busco com minha gargalhada alta, com a minha perdição humana em festejar porque é preciso festejar, com a minha solidão cansada de se enganar. Não agüento mais os mesmos papos, os mesmos cheiros, as mesmas gírias, os mesmos erros, a volta por cima, o salto alto, o queixo empinado, o peito projetado pra frente. Não agüento mais fingir com toda a força do mundo que tudo bem festejar sem saber quem é você. Eu não acredito mais em sumir do país, em trocar de emprego, em mudar de religião, em ficar em silêncio até que tudo se acalme, em dormir até tarde, no fim de tarde na Praia Preta, na nova proposta, no novo projeto, no super livro, no filme genial, na nova galera, na academia moderna, no carinha até que bacana que gosta de jazz e restaurantes charmosos, no curso de história, em comprar o novo CD mais master animado do mundo, em ler John Fante longe de tudo, em ser dondoca, em fazer progressiva, em fazer boxe, em fazer torta de verdura, em ser batalhadora, em ser fashion, em não ser nada. Mas eu continuo acreditando na gente, eu continuo acreditando que tudo sem você é distração e tudo com você é vida. Como eu queria agora ir para a sua casa, deitar na sua cama, ouvir a sua voz, esquentar meu pé na sua batata da perna. Como eu queria saber seu nome, seu cheiro, sua rua. Assim como um dia um samba saiu procurando alguém, este texto tem a missão de sair em sua busca. Eu não escrevo por dinheiro, vaidade, pretensão ou inteligência. Eu escrevo porque eu sei que é assim que vou te encontrar. Eu escrevo porque não posso mais agüentar que a festa acabe.

Tati Bernardi